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Artrite


10/07/2017

A artrite consiste numa inflamação das articulações que causa dor e imobilidade e, cuja intensidade pode variar entre ligeira a aguda. Existem mais de 100 tipos de artrite mas as formas mais comuns são a osteoartrite, a artrite reumatoide e a fibromialgia. Todas elas partilham sintomas como a dor, a fadiga e a inflamação, tendo no entanto outros efeitos que lhes são únicos. A artrite afeta pessoas de todas as idades e não apenas os idosos, sendo a idade média das pessoas diagnosticadas com artrite reumatoide de 35 anos. Em Portugal, cerca de 50 mil pessoas sofrem desta doença.

Ainda não existe uma cura para a artrite e as causas são também desconhecidas. No entanto, há diversos tratamentos disponíveis que podem ajudar o doente a controlar os sintomas.

As Articulações

O esqueleto é composto por ossos, estruturas rígidas e inflexíveis, que precisam da ajuda das articulações para que nos possamos movimentar. As articulações funcionam como conexão entre os ossos e os ligamentos (feixes de tecido fibroso que ajudam a estabilizar a articulação). Nestes pontos de contacto, a superfície dos ossos encontra-se revestida por cartilagem, uma camada protetora que previne o atrito entre eles. Por sua vez, as articulações estão protegidas por uma cápsula articular, cuja área interior – cavidade articular –  contém líquido sinovial. Este fluído, produzido pela membrana sinovial que reveste a cavidade articular, fornece nutrientes à articulação e à cartilagem.

O movimento das articulações é operado pela contração e alongamento dos músculos ligados aos ossos. Por exemplo, quando os bíceps contraem e os tríceps alongam, a parte inferior do braço é puxada em direção ao ombro.

A artrite consiste numa inflamação articular que gera dor e dificuldade no movimento. Esta doença afeta as articulações de muitas maneiras diferentes, causando diferentes níveis de dor, de acordo com o tipo e gravidade da artrite.

Tipos de Artrite e Osteoartrite

Existem mais de 100 tipos de artrite, desde os mais comuns aos extremamente raros. Muitos deles partilham sintomas, como a dor e a inflamação das articulações, mas têm também sintomas únicos e característicos.

Os tipos de artrite mais comuns são:

  • Osteoartrite;
  • Artrite reumatoide;
  • Fibromialgia;
  • Artrite psoriática;
  • Artrite juvenil;
  • Espondilite anquilosante;
  • Gota;
  • Polimialgia reumática;
  • Lúpus.

Osteoartrite

A osteoartrite é o tipo mais comum de artrite. Habitualmente, desenvolve-se de forma gradual, ao longo de muitos anos, e afeta diferentes articulações. Esta doença, cuja causa é desconhecida, é mais frequente nas mulheres e aparece normalmente após a menopausa. Quando o processo geral da doença termina, as articulações podem ter uma aparência nodosa, mas, normalmente, causam menos dor. Em alguns casos, a dor desaparece completamente e, apesar de uma possível deformação visível das articulações, permite que a pessoa continue a fazer a maioria das suas tarefas diárias.

Anteriormente associava-se a osteoartrite a um desgaste da articulação, mas sabe-se agora que existem muitos outros fatores, para além da idade, que contribuem para o seu desenvolvimento, incluindo fatores genéticos, obesidade ou lesões.

Artrite reumatoide

A artrite reumatoide é o tipo mais comum de artrite inflamatória. Na maioria das doenças, uma inflamação serve um propósito – ajudar à cura – e, findo este processo, desaparece. No caso da artrite reumatoide acontece exatamente o oposto. Esta inflamação causa diversos danos, pode prolongar-se durante muitos anos ou aparecer de forma intermitente.

Um dos problemas da artrite reumatoide é o comportamento do sistema imunitário. Este age ao contrário do que deveria e ataca determinadas partes do corpo em vez de as proteger. Esta reação autoimune, cuja causa se desconhece, ocorre principalmente nas articulações mas, num reaparecimento da doença, pode afetar outros órgãos.

Fibromialgia

A fibromialgia é um tipo comum de artrite que causa fadiga crónica e dor intensa e disseminada. Afeta os músculos, os ligamentos e os tendões mas não as articulações. Pode afetar uma ou mais partes do corpo, como os braços, as pernas, o pescoço e as costas.

Artrite psoriática

A artrite psoriática é uma forma de artrite que se verifica em pessoas que têm psoríase, uma doença da pele que pode preceder ou seguir-se à inflamação articular. Este tipo de artrite pode afetar a maioria das articulações mas, tipicamente, causa problemas no dedos das mãos e dos pés, desgaste e descoloração das unhas. Cerca de um terço das pessoas com artrite psoriática sofre de espondilite anquilosante – uma dor intensa nas costas ou pescoço causada por uma inflamação na coluna.

Espondilite anquilosante

A espondilite anquilosante é outra forma de artrite inflamatória. Os sintomas centram-se na dor e inflamação das articulações da zona lombar. Anquilosante significa fusão/endurecimento e espondilite significa inflamação nas vértebras. Se não for tratada, as articulações da coluna podem fundir-se, causando uma redução da capacidade de movimento.

Gota

A gota é um tipo de artrite que resulta da acumulação de cristais de ácido úrico nos tecidos e articulações, causando dor intensa. Uma vez tratada, a gota deixa de ser um problema para a maioria dos doentes.

Todos temos ácido úrico no sangue que é eliminado através da urina. Quando os níveis de ácido úrico são muito elevados podem formar-se cristais que depois se acumulam nas articulações e zonas circundantes e provocam inflamação, inchaço e dor aguda.

Artrite juvenil

A maioria dos tipos de artrite que surgem na infância são designados por artrite juvenil ou artrite idiopática juvenil. Os sintomas da artrite juvenil incluem inflamação, dor e inchaço numa ou mais articulações.

Polimialgia reumática

A polimialgia reumática é uma doença inflamatória que afeta os músculos do ombro e zona circundante, as ancas e as nádegas. Esta doença, cuja causa desconhece, aparece normalmente de forma repentina. A rigidez nas áreas afetadas atenua ao longo do dia e reaparece durante a noite. Ao contrário do que acontece na artrite reumatoide, as articulações não são habitualmente afetadas – embora possa surgir, ocasionalmente, inflamação nas articulações do ombro, anca e pulsos.  Muito ocasionalmente, as artérias que fornecem a zona da cabeça e pescoço podem ser afetadas, causando dores de cabeça e eventual perda de visão. Este sintoma é particularmente grave e requer tratamento imediato.

Lúpus

O lúpus eritematoso sistémico (LES ou lúpus) é uma doença na qual o sistema imunitário se encontra comprometido. As células e anticorpos que existem no nosso corpo para o defender de infeções começam a atacá-lo, dando origem a uma inflamação.

O lúpus é uma doença sistémica, isto é, pode afetar diferentes partes do corpo. Esta doença pode começar subtilmente ou de forma muito óbvia, com sintomas agravados. Uma vez que a sua sintomatologia se assemelha à de muitas outras doenças, o lúpus pode ser frustrantemente difícil de diagnosticar. Assim, para se obter um diagnóstico fiável é necessário eliminar todas as possibilidades de doenças com sintomas iniciais similares.

Diagnóstico

A dor, a rigidez e o inchaço das articulações são sintomas que podem indicar algo tão inofensivo como uma ligeira distensão ou o aparecimento de artrite. Se sentir dor ou inflamação nas articulações é importante marcar uma consulta com o médico de família para que este possa fazer um diagnóstico.

Apresentamos-lhe algumas sugestões para que tire o maior partido da sua ida ao médico:

  • Esteja preparado: antes da consulta pense numa forma clara de descrever os sintomas. Anote as suas dúvidas e todas as alterações que tenha verificado nos sintomas.
  • Esteja confiante: não tenha medo de fazer perguntas. Se ficou confuso ou com dúvidas, peça ao médico que lhe explique novamente e de forma mais clara.
  • Duas cabeças pensam melhor do que uma: ir à consulta médica acompanhado por um membro da família ou amigo pode ajudá-lo a manter a calma e a lembrar-se de fazer as perguntas certas.

O seu médico irá apresentar um diagnóstico de artrite baseado nos sintomas, na examinação física e em exames médicos. O diagnóstico pode ser imediato ou pode ser encaminhado pelo médico de família para um reumatologista ou cirurgião ortopedista.

 

Rastreio para a osteoartrite

O médico de família irá:

  • Verificar se existe inchaço, rutura ou sensibilidade nas articulações, restrição de movimentos ou instabilidade.
  • Pedir um exame de sangue para eliminar a possibilidade de outros tipos de artrite.
  • Pedir um raio-x para confirmar que se trata de osteoartrite e analisar a extensão dos danos.

Um diagnóstico de osteoartrite significa que o médico de família será o principal apoio na gestão das consequências desta doença. Este poderá encaminhar o doente para um fisioterapeuta que o irá aconselhar sobre exercícios que ajudam a preservar a mobilidade das articulações. Se os danos causados pela artrite forem graves, o doente poderá ser encaminhado para um reumatologista, um cirurgião ortopédico ou um especialista em dor crónica.

Rastreio para a artrite reumatoide

O médico de família irá:

  • Examinar as articulações e a pele e testar a resistência muscular.
  • Pedir um exame de sangue para verificar se existe inflamação.
  • Pedir um raio-x para verificar se existem sinais de articulações e/ou ossos danificados.

Um diagnóstico de artrite reumatoide significa que o médico de família irá prescrever medicamentos para controlar a doença e reduzir a inflamação. O médico de família poderá encaminhar o doente para outros profissionais de saúde, como um reumatologista ou um fisioterapeuta.

 

Tratamento

O estudo e tratamento da artrite fazem parte da reumatologia. No entanto, o tratamento desta doença abrange  outras áreas da medicina. Não é fácil atingir um ponto de equilíbrio no tratamento da artrite, uma vez que as reações diferem de pessoa para pessoa.

  • Medicação
  • Cirurgia
  • Fisioterapia
  • Terapia ocupacional
  • Podologia
  • Terapias complementares

 

Medicação

A necessidade de medicação é um dado adquirido para a maioria das pessoas com artrite. É importante que o doente se sinta confortável com a toma da medicação e em debater com o médico os efeitos e resultados dos medicamentos.

Há dois grandes grupos de medicamentos usados para combater a artrite e que podem ser receitados em conjunto:

Medicamentos que controlam os sintomas da doença e que são usados na maioria dos tipos de artrite, incluindo a osteoartrite e a artrite reumatoide. Estes medicamentos aliviam os sintomas específicos como a dor, o inchaço e a rigidez. Neste grupo incluem-se os analgésicos e os anti-inflamatórios não-esteroides.

Medicamentos que atacam a doença e a sua progressão através, por exemplo, da depressão do sistema imunitário. Esta família de fármacos inclui antirreumáticos modificadores da doença (DMARDs) como o metotrexato e os corticoesteroides. Estes medicamentos também possibilitam um melhor controlo dos sintomas.

 

Cirurgia

A cirurgia pode reduzir drasticamente a dor e melhorar a mobilidade e qualidade de vida do doente.

Existe uma grande variedade de cirurgias que podem ajudar as pessoas com artrite, desde pequenas intervenções (como operações para remover quistos ou nódulos), até intervenções cirúrgicas complexas como a colocação de uma prótese.

As intervenções cirúrgicas para colocação de próteses de anca e joelho são as mais frequentes. Anteriormente, estas operações eram feitas maioritariamente em pessoas com mais de 60 anos, mas com o aumento da qualidade das próteses, estas intervenções começaram a ser feitas em pessoas mais jovens. Um doente mais jovem que opte por colocar uma prótese, deve ter em conta que, muito provavelmente, irá ter de fazer uma cirurgia de revisão mais tarde.

 

Fisioterapia

A fisioterapia desempenha um papel muito importante no tratamento da artrite, uma vez que melhora a mobilidade, a resistência, a força muscular e a flexibilidade. Este tipo de intervenção é normalmente acompanhado de um tratamento farmacológico. Se o doente for encaminhado para um fisioterapeuta, ser-lhe-á feita uma análise total das articulações, músculos, postura e forma de andar. O fisioterapeuta irá ainda colocar questões sobre o nível e o tipo de dor, bem como as limitações que o doente enfrenta com a doença. Após uma análise do tipo de artrite e do estado geral de saúde do paciente, será elaborado um plano de tratamento que pode incluir exercício físico, hidroterapia, técnicas de mobilização, técnicas de relaxamento e de alívio da dor, eletroestimuladores musculares (TENS), colocação de talas, aparelhos para auxílio da marcha e conselhos gerais de postura.

Habitualmente, são necessárias cerca de seis sessões de fisioterapia.

 

Terapia ocupacional

Se o doente apresentar dificuldade em executar tarefas quotidianas como tomar banho, vestir-se, cozinhar e limpar, pode beneficiar bastante com a terapia ocupacional. Os terapeutas ocupacionais e os enfermeiros especialistas em reabilitação têm um vasto conhecimento sobre os equipamentos que podem ajudar o doente em determinadas tarefas do dia a dia.

Estes equipamentos podem incluir:

  • Talheres ergonómicos;
  • Base móvel para chaleira elétrica;
  • Barras de apoio para a banheira ou duche;
  • Pinças recoletoras;
  • Andarilhos;
  • Cadeira de transporte adaptada ao corrimão.

O médico de família pode encaminhá-lo para um enfermeiro especialista em reabilitação ou terapeuta ocupacional. Pode encontrar estes profissionais de saúde no hospital da sua área de residência, na rede de cuidados continuados ou solicitar consultas ao domicílio.

 

Podologia

A podologia, ou quiropodia, especializa-se no tratamento dos pés e pode melhorar imenso a mobilidade de uma pessoa com artrite. Os pés e os tornozelos, que nos permitem fazer algumas das tarefas mais elementares como caminhar ou estar de pé, são também as áreas mais afetadas por esta doença. Numa consulta com um podologista (pode ser encaminhado pelo médico de família ou marcá-la de forma independente), este irá examinar atentamente a forma como caminha de maneira a avaliar a amplitude de movimentos, a pressão exercida no pé e nas articulações e forma como protege o pé da dor. Poder-lhe-á ser pedido um raio-x ou uma ecografia para avaliar melhor o problema. O podologista pode ainda prescrever palmilhas ou sapatos ortopédicos desenhados especificamente para proporcionar um melhor apoio ao pé e facilitar a locomoção.

 

Terapias complementares

Como o próprio nome indica, estas terapias são concebidas para complementar os tratamentos médicos convencionais e não para os substituir. Este tipo de intervenção foca-se no tratamento geral do paciente. Mesmo que a medicação se revele eficaz, pode ser do seu interesse saber o motivo pelo qual muitas pessoas com artrite têm vindo a explorar terapias como a acupuntura, a aromaterapia e a reflexologia e se também poderá beneficiar deste tipo de intervenções. A vasta gama de terapias complementares pode tornar-se avassaladora, mas todas elas têm um objetivo em comum: tratar a pessoa e não a doença em si. Ao contrário da medicina convencional, há pouca evidência científica a apoiar os seus benefícios. No entanto, muitas pessoas afirmam que estas terapias as ajudaram a aliviar sintomas como a dor e a rigidez, bem como a lidar com os efeitos secundários dos medicamentos.

 

Terapias complementares populares em pessoas com artrite:

Acupuntura: A acupuntura tem a sua origem na medicina tradicional chinesa, onde tem vindo a ser praticada há milhares de anos. Baseia-se na teoria de que a saúde é determinada pelo fluxo de energia interno (chi) no corpo. Os desequilíbrios no fluxo de energia são corrigidos através da aplicação de agulhas muito finas em pontos específicos do corpo.

 

Técnica Alexander: A técnica Alexander centra-se na forma como usamos o corpo e ensina novos métodos para melhorar o equilíbrio, a coordenação e a consciência corporal. Através de uma aprendizagem sobre como estar em pé e movimentar-se corretamente, a pessoa pode libertar a tensão acumulada e aliviar as consequências de uma má postura.

 

Quiroprática: A quiroprática é uma das terapias complementares que tem vindo a ganhar um crescente respeito na comunidade médica. Tem como objetivo melhorar a mobilidade e aliviar a dor, focando-se para isso nos problemas mecânicos das articulações, particularmente da coluna. Os quiropráticos usam as mãos para ajustar as articulações da coluna e de outras partes do corpo onde o movimento é restrito. Embora não consigam reverter os danos causados pela artrite, os quiropráticos afirmam que este ajuste regular pode manter as articulações mais saudáveis e móveis, bem como reduzir as dores e a evolução dos danos.

 

Hidroterapia: A hidroterapia permite aos doentes com artrite exercitar as articulações e os músculos com o apoio da água quente. A temperatura da água ajuda a relaxar os músculos e alivia as dores nas articulações. Uma vez que a água ajuda a suportar o peso do corpo, a amplitude de movimentos das articulações deverá aumentar.

 

Massagem: A massagem ajuda a relaxar os músculos contraídos e rígidos através de movimentos suaves e constantes. Movimentos rápidos e intensos podem melhorar a tonificação e firmeza dos músculos pouco desenvolvidos. Esta terapia pode ainda ajudar a aumentar o fluxo sanguíneo no corpo e a aliviar a tensão.

Uma boa massagem tem também efeitos psicológicos positivos, podendo fazê-lo sentir-se relaxado e cuidado.

 

Reflexologia: Os reflexologistas acreditam que a estimulação de pontos de reflexo nos pés pode remover bloqueios de energia e aliviar o stress, de forma a que o corpo se regenere. Estes terapeutas aplicam pressão nos pés usando os dedos ou o polegar. Esta terapia baseia-se no princípio de que ao aplicar pressão numa parte específica do corpo podemos aliviar a dor existente noutras áreas.

 

Yoga: O Yoga permite um aumento da flexibilidade e promove o bem-estar e a força mental e física. Esta prática pode melhorar a postura, a tonificação muscular, a mobilidade e proporcionar uma sensação geral de relaxamento. As posturas do Yoga evoluíram ao longo de milhares de anos e permitem alongar e reajustar a coluna (centro estrutural e nervoso do corpo). Os asanas (posturas) movimentam o corpo em diferentes direções e, juntamente com uma respiração adaptada a esta prática, estimulam os músculos, as articulações, a circulação, a digestão, o sistema nervoso e endócrino.

Lidar com a Artrite

Independentemente do tipo de artrite, é muito importante que o doente desenvolva estratégias para lidar com a doença. É necessário optar entre gerir esta condição de forma passiva ou ativa: o doente pode perder gradualmente a possibilidade de fazer as coisas de que gosta ou procurar soluções que o ajudem a manter ou a reaver algumas das suas capacidades. A investigação científica mostra-nos que as pessoas que gerem ativamente a doença sentem menos dor, são mais ativas e conseguem manter as atividades que lhes dão prazer e bem-estar.

 

Autogestão de tarefas

O doente que opta por lidar ativamente com a artrite, tem de estar disposto a enfrentar três conjuntos de tarefas de autogestão.

 

  1. Tratar o problema de saúde (tomar a medicação, exercitar-se, ir ao médico, alterar a dieta, etc.)

É importante que o doente se mantenha informado acerca da sua condição de saúde, que faça perguntas, que leia sobre a doença e, sempre que necessário, indique como se sente aos diferentes técnicos de saúde. Deve ainda participar ativamente do planeamento do programa de tratamento, através da monitorização do estado de saúde e da partilha de preferências e objetivos com a equipa médica.

 

  1. Manter as atividades habituais (emprego, vida social, etc.) É importante que o doente continue a fazer as atividades que lhe dão prazer, mesmo que isso signifique algumas alterações. Por exemplo, usar uma ferramenta de jardinagem adaptada ou ter refeições preparadas no congelador para os momentos em que não consegue ou não lhe apetece cozinhar.

 

  1. Gerir as alterações emocionais Aceitar viver com a doença é também enfrentar alterações emocionais relacionadas com a raiva, a incerteza em relação ao futuro, a mudança de objetivos e, por vezes, a depressão. Estas mudanças podem afetar a relação com a família e os amigos. É importante que o doente tenha a noção de que irão surgir altos e baixos e que estas mudanças são naturais e fazem parte da vida.

 

Dor/ Fadiga

Muitas pessoas assumem que os sintomas se devem exclusivamente a uma causa: artrite ou fibromialgia. Embora causem certamente dor e fadiga, estas não são as únicas hipóteses possíveis. Estes dois sintomas podem inclusive dar origem a outros sintomas e, pior ainda, agravarem-se mutuamente. Por exemplo, a inflamação causada pela artrite provoca dor, a dor causa stress e ansiedade que podem causar insónia, que pode levar à depressão, que por sua vez pode dificultar a toma adequada da medicação, levando a um aumento da fadiga ou da dor. A interação alternada destes sintomas faz com que a artrite ou a fibromialgia pareçam estar a piorar. Torna-se um ciclo vicioso que piora até o doente encontrar uma forma de o quebrar. A esta repetição dá-se o nome de ciclo da dor/fadiga.

Ao entender a forma como os sintomas se agravam, é possível desenvolver técnicas que permitam quebrar este ciclo.

Antes de abordar algumas das ferramentas possíveis para lidar com o ciclo da dor/fadiga, é importante referir alguns princípios chave para a gestão da dor:

  • É mais eficaz tratar a dor assim que ela se manifesta do aguardar que se agrave. O doente deve procurar de imediato um tratamento eficaz para a dor.
  • Pequenas mudanças podem fazer toda a diferença. O doente não precisa estar totalmente livre de dor para continuar a fazer aquilo de que gosta.
  • As atividade de autogestão, como o exercício físico, não são necessariamente isentas de dor. Os diferentes níveis de dor podem ser usados como indicadores que ajudam o doente a perceber se já se exercitou o suficiente ou se deve continuar. Este tema é abordado em maior profundidade na secção dedicada ao exercício físico.

 

A caixa de ferramentas da autogestão

Uma autogestão adequada da artrite requer uma combinação de tarefas e atividades. Podemos usar a metáfora da caixa de ferramentas para descrever o que é necessário para enfrentar esta condição (ver imagem abaixo). Ao abrir a caixa irá encontrar diversos tipos de ferramentas, como a atividade física, a alimentação saudável, a capacidade de resolução de problemas, o alternar de atividades, o planeamento, a medicação, a comunicação e as atividades de reflexão que exercitem a mente. Podemos usá-las sempre que forem necessárias para quebrar o ciclo e gerir a dor e a fadiga.

Não utilizamos sempre a chave de fendas, às vezes é necessário um martelo ou uma broca. O mesmo se passa com esta “caixa de ferramentas”.

Artrite e exercícios físicos

O exercício físico pode ajudar a melhorar a condição física e a saúde do doente sem afetar as articulações. Na verdade, ao manter-se ativo o doente está a “alimentar” as articulações. A cartilagem depende do movimento articular para absorver os nutrientes e eliminar os resíduos.

Manter um peso saudável é outro dos elementos importantes na gestão da artrite. Sabia que perder um quilo de excesso de peso diminui a pressão exercida nos joelhos até 4kg? Ao aumentar a atividade física pode estar a fazer uma grande diferença na sua saúde e na saúde das suas articulações.

Paralelamente ao tratamento, o exercício físico moderado e regular oferece uma série de benefícios:

  • Reduz a rigidez e a dor nas articulações;
  • Fortalece os músculos, ligamentos e cartilagem em redor das articulações;
  • Ajuda a manter a qualidade e a força dos ossos;
  • Aumenta a amplitude de movimentos e a mobilidade das articulações;
  • Melhora o equilíbrio;
  • Aumenta os níveis de energia;
  • Ajuda a controlar o peso;
  • Contribui para uma boa noite de sono;
  • Contribui para uma melhoria da autoestima e sensação de bem-estar;
  • Melhora a capacidade de lidar com o stress;
  • Reduz o risco de outras doenças crónicas;
  • Fortalece o coração e os pulmões;
  • Reduz a tensão arterial e o colesterol.

Uma dieta para a artrite

Dieta

Não existe uma dieta específica para os doentes com artrite, porém um regime alimentar equilibrado e um peso saudável, podem fazer uma grande diferença na condição e bem-estar geral do doente. Além de assegurar que o corpo recebe os nutrientes essenciais ao seu funcionamento, comer de forma saudável pode ajudar a reduzir diretamente os sintomas da artrite ou indiretamente, através da redução da pressão sobre as articulações pela perda de peso. Se o doente estiver abaixo do peso saudável, uma dieta equilibrada pode ajudá-lo a superar o cansaço e a ganhar peso de forma saudável.

  • O que comer?
  • Ter excesso de peso
  • Controlar a dieta
  • Detalhes da dieta

O que comer?

Há muita informação confusa e contraditória sobre a dieta recomendada para uma pessoa com artrite e sobre se determinados alimentos são úteis ou prejudiciais ao doente. Embora alguns alimentos possam ter um maior impacto na doença, o essencial é manter uma dieta equilibrada que garanta que o corpo obtém todos os nutrientes necessários. O doente deve ingerir menos gorduras, menos açúcar, mais frutas e legumes, peixes ricos em ómega 3 e alimentos ricos em cálcio e em ferro.

É importante ter em conta que cada pessoa reage de forma diversa aos alimentos e que o doente terá de descobrir por si a dieta que mais lhe convém.

 

Ter excesso de peso

O excesso de peso é um problema comum nas pessoas com artrite. Alguns medicamentos, como os esteroides, podem levar ao aumento de peso e outros, como os anti-inflamatórios não-esteroides (AINEs), podem causar problemas no estômago e dificultar as escolhas alimentares.

Alguns doentes aumentam de peso por não conseguirem fazer exercício físico ou preparar comida fresca, enquanto outros emagrecem durante a recidiva da doença por estarem demasiado cansados para comer. Uma dieta equilibrada é a chave para um peso saudável e a sua manutenção é uma das atitudes mais eficazes na redução dos sintomas da artrite. Um ligeiro emagrecimento num doente com excesso de peso pode reduzir a pressão sobre as ancas, as costas, os joelhos e os pés.

É importante que o doente não se encontre abaixo do peso recomendado para que o seu corpo esteja nutrido e tenha a força necessária para combater a doença ou uma eventual recaída.

Um peso corporal saudável obtém-se através do equilíbrio entre o que ingerimos e a energia que gastamos. Cada indivíduo tem necessidades nutricionais únicas de acordo com a idade, sexo, altura e nível de atividade física. A linha orientadora de calorias a ingerir é de 2000 quilocalorias (kcal) para uma mulher ativa e 2500 quilocalorias para um homem ativo.

Caso necessite ganhar peso, a melhor abordagem é comer um pouco mais mas optando sempre por alimentos saudáveis em detrimento de fritos ou doces, que não irão contribuir para o seu estado de saúde a longo prazo. Deve optar por comer uma fatia extra de torrada ao pequeno-almoço ou aumentar ligeiramente a quantidade de massa ou arroz ao almoço.

 

Controlar a dieta

Alguns alimentos, em particular os processados, contêm níveis elevados de açúcar, gordura e sal. Ao preparar a própria comida, o doente consegue controlar melhor a qualidade dos alimentos que ingere. Se tem dificuldade em cozinhar mas precisa perder peso, escolha comidas preparadas com baixo teor de gordura, consultando o índice de calorias e sal no verso da embalagem.

Deve consultar o seu médico ou enfermeiro para que o ajudem a emagrecer da forma mais saudável possível. Uma perda de peso brusca pode ser prejudicial à saúde.

 

Detalhes da dieta

Ter uma dieta saudável significa comer uma grande variedade de alimentos de diferentes grupos alimentares. De uma forma geral, uma dieta equilibrada é:

  • Rica em frutas e vegetais;
  • Rica em amido e fibras;
  • Baixa em gorduras e sal;
  • Baixa em adição de açúcar.

 

Uma dieta equilibrada contém hidratos de carbono, proteínas, gorduras, vitaminas, minerais e fibras. Os hidratos de carbono dão-nos energia; a proteína é essencial para o crescimento e regeneração e as vitaminas e minerais têm um papel importante no funcionamento saudável do nosso corpo. Embora deva consumir gorduras em pequenas quantidades, estas são também elementos importantes de uma dieta saudável. Uma quantidade equilibrada de gorduras, dá-nos energia e ajuda a absorver algumas vitaminas. Os alimentos ricos em fibras ajudam a regular o trânsito intestinal, algo particularmente importante para as pessoas que sofrem de obstipação por não poderem fazer exercício físico ou como efeito secundário da medicação.

Existem cinco grandes grupos de alimentos. O d abaixo mostra a proporção que estes alimentos devem ter na sua dieta. Embora esta proporção não tenha de estar presente em todas as refeições, é importante que a tente atingir ao longo do dia ou da semana.

  • Pão, cereais e batatas;
  • Frutas e vegetais;
  • Carne, peixe e alternativas proteicas;
  • Leite e seus derivados;
  • Gorduras e açúcares.

Cuidar de uma pessoa com artrite

Cuidar de alguém com artrite é um desafio. É necessário atingir um equilíbrio entre dar apoio e motivação sem ser demasiado protetor. A maioria das pessoas com artrite quer preservar a sua autonomia e é importante que as ajude a reaver essa independência. Isto significa que, por vezes, o doente pode não querer ajuda. Esses momentos podem ser difíceis de avaliar, pelo que é importante estar atento aos sinais e, por vezes, afastar-se sem insistir em participar de uma determinada atividade. Se a pessoa a seu cuidado se levanta sozinha de uma cadeira, o melhor é não tentar ajudar nessa tarefa, a não ser que esta mostre muita dificuldade ou peça ajuda.

 


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